domingo, 11 de março de 2012

Fim de semana e um bocadinho de mim....


O meu fim de semana foi em casa, as limitações do meu doentinho não permitiram saídas. Mas a minha casa foi um entra e sai sem fim, e bebeu-se por aqui umas dezenas de chávenas de chá com bolinhos. È muito bom sentir que temos apoio dos amigos e da família. Todos os que me são mais próximos e alguns colegas o vieram ver .
Este meu filho é muito especial, é o do meio e nos últimos dois anos e meio toda a minha vida mudou devido á sucessão de problemas que lhe surgiram. Para mim é muito difícil falar nesta questão, não consigo lidar bem com o assunto e até hoje  não houve uma única vez que  abordasse este tema sem  chorar, é mesmo mais forte que eu…Poucos são os que sabem do problema dele. O problema físico era conhecido e espero  tenha ficado resolvido agora com a cirurgia. O outro não sei se alguma vez se resolverá, e eu dava tudo o que tenho para que ele fosse um miúdo feliz naturalmente e não artificialmente, mediante medicamentos. Continuo com algumas duvidas que ainda nenhum médico me esclareceu devidamente : se a anestesia geral que levou não irá agravar o seu problema, e se por outro lado o facto de ele ver resolvido o seu problema físico não irá ajudar a aligeirar o dito problema. Este assunto é  partilhado apenas com a família mais próxima e com os amigos muito chegados.
Ele se um dia quiser ou tiver de contar, será ele e não nós, também ninguém o pode ajudar e é melhor assim… Houve, e ainda há em mim uma enorme revolta por isto nos ter acontecido a nós, se bem que considere que ninguém merece, mas  porquê nós?
Tenho dias em que estou tão triste com a situação dele que nada me anima. Tenho outros que penso que há pais a debaterem-se com problemas muito piores  e são tão fortes, eu também tenho de ser…e a maioria dos dias são um misto dos dois sentimentos, por isso uns dias estou feliz outros profundamente triste e nesses não quer dizer que ele esteja pior, é assim e pronto!
Eu era uma pessoa muito bem disposta, estava sempre de bem com a vida, adorava rir e se não encontrava nada para me divertir, divertia-me comigo própria. Uma amiga minha dizia que não conhecia ninguém como eu para contar anedotas, mesmo as que não tinham piada faziam rir toda a gente se fossem contadas por mim.
Na minha vida era tudo tão perfeito, mas o meu mundo começou a desabar há 6 anos e nunca mais parou. E enquanto o meu mundo se tem desmoronado, eu tenho engordado…!
E agora vou contar um episódio curioso da minha vida que é revelador da Ema que eu era, uma Ema que agora é uma sombra da anterior…
Eu conheci o meu marido na faculdade. Nunca fomos da mesma turma porque ele andava um ano atrás de mim, eu tinha aulas de manhã, ele tinha aulas de tarde. Mas os trabalhos por vezes obrigavam-nos a ficar por lá e fomo-nos cruzando. Eu lembro-me da primeira vez que o vi, ia com duas colegas e todas achamos  que ele era lindo, que tinha muita classe, que devia ser já estudante de Mestrado - Tratei logo de saber em que ano andava e fiquei surpreendida por ver que era do 2º ano, eu pensava que ele era mais velho que eu, tinha um aspecto muito limpinho, muito aprumadinho, muito engomadinho e muito serio, parecia muito responsável  e dava ares de ser do ultimo ano, ou mesmo de Mestrado . Estava longe de imaginar que tinha  13 meses menos que eu…Acho que me apaixonei logo por ele, mas pensava para comigo que ele devia ter uma namorada daquelas de fazer parar o transito…Comecei a reparar que ele era um cavalheiro, entrava no bar os colegas sentavam-se ele leva-lhe o café para a mesa e só depois se sentava e bebi o dele…abria a porta ás colegas e só depois passava, sem nunca ter falado com ele, apercebia-me  que era muito educado, pouco típico da nossa idade e da nossa geração…
Eu andava sempre bem disposta, ao pé de mim ninguém estava triste, tinha sempre um disparate para dizer, qualquer coisa divertida para comentar, quanto mais não fosse de mim própria… Andava sempre a rir e a fazer rir, ele era o oposto tinha um ar doce mas serio, e eu comecei quase instintivamente a parar de rir quando me cruzava com ele ou quando entrava no bar e o via lá. Achava que aquela paixão nunca iria dar em nada, mas ainda assim pensava que a ter alguma hipótese nunca seria com aquela minha postura descontraída e risonha…
O tempo foi passando e comecei a perceber que ele reparava em mim, mas não conhecia ninguém da turma dele e nunca tinha arranjado forma de falar com ele, mas já sabia o seu nome ( já tinha ouvido chamarem-no…) .
Na faculdade os teste ao sábado de manhã eram frequentes para que pudessem ser feitos em simultâneo pelos alunos de dia e da noite. Um sábado saí eu de um desses testes de Economia Politica internacional (como me poderia esquecer…) e para meu espanto ele estava encostado á parede em frente á porta da sala. Fiquei perplexa e intrigada com aquilo e ainda mais quando ele se dirigiu a mim e me perguntou como tinha corrido o teste…respondi atabalhoadamente. Ele perguntou-me onde eu ia almoçar, eu quase sem respirar acho que nem sabia o que significava almoçar…troquei-me toda a responder, e ele convidou-me para ir almoçar a um restaurante simpático etc…Sem ter tempo de reagir aceitei e fui com ele. Almoçamos e passamos a tarde num jardim, ele a falar dele, e eu a pensar que ele nunca seria agua para o meu bico…contou-me que não era de Lisboa que ia a casa semana sim semana não, que tinha uma irmã, dois sobrinhos pequeninos de quem tinha muitas saudades, da actividade do pai, do que ia ser a vida dele quando acabasse o curso etc. E eu sempre a pensar:  e quando é que me contas que tens uma namorada…? Eu senti-me tão inferior tão pequenina que pouco falei de mim.Como lhe ia dizer que a minha família era muito humilde, que eu só andava bem arranjadinha porque era vaidosa e a minha avó me ia dando dinheiro para "as minhas coisinhas..." que o meu pai ganhava pouco mais que aquilo que os pais dele lhe davam para viver um mês em Lisboa, que o carro do meu pai era velho, e tantas outras coisas que me pareciam uma barreira intransponível entre nós...  Voltei para casa triste, 100% convencida que ele nunca seria meu… Eu não podia imaginar que uma laranja pudesse ter duas metades tão diferentes...
Mas ele continuou a ser simpático, a falar comigo na faculdade, a esperar por mim aos sábados, fomos varias vezes ao cinema, ele apesar do ar sério tinha um lado divertido e era um comunicador nato (ainda hoje é!). Nunca aceitou que eu pagasse um tostão, em nada a que íamos,e eu estava naturalmente habituada e dividir todas as despesas  com os meus colegas, mas o dinheiro não abundava e apesar de me sentir mal por ser sempre ele a pagar, percebia que ele  fazia questão que fosse assim e eu aceitava: sempre ficava com mais algum…! Um dia perguntou-me se não era hora de começarmos a namorar, eu até estremeci, continuava a pensar que ele devia ter uma namorada á altura dele, e pensei nesse momento, que ele queria alguém para passar o tempo ali em Lisboa, mas ao mesmo tempo isso não parecia combinar com a personalidade dele… e respondi que não era a hora, que precisava pensar. Perdi umas semanas de vida! Ele afastou.se de mim, apenas me cumprimentava e andava. Eu quase morria sem saber o que fazer….
Esqueci-me de dizer que o facto de ele ter aquele aspecto muito aprumadinho levava a que eu vestisse a minha melhor roupa quando combinava-mos sair ao sábado, e a minha melhor roupa era um vestido branco que eu combinava com um casaco vermelho ...

De coração partido, e numa tentativa de reaproximação,   um dia perguntei-lhe se ele não queria ir ver um filme que estava em cartaz, ele hesitou um bocadinho (ele diz que simulou a hesitação...), mas aceitou e lá fomos no sábado seguinte, eu com o dito vestido branco, (essa foi a única vez que paguei o cinema, aleguei que tinha sido eu a convidar!)
No cinema dê-mos as mãos…e nunca mais nos separamos. E ontem curiosamente fez anos que esse dia aconteceu.  Nesse dia ele disse-me três coisas :
- Que aquilo que mais gostava em mim era da minha alegria, da minha boa disposição e começou a reparar em mim por causa disso e começou a perceber que eu mudava totalmente quando o via… ( e eu a pensar que ele gostava delas sérias...)
- Que demorou algum tempo para falar comigo porque estava convencido que eu devia ter namorado, que era muito gira e muito alegre, não devia estar sozinha…( e eu a pensar que ele é que tinha!)
- Por fim perguntou-me porque motivo eu não me vestia para sair com ele como me vestia para ir para a faculdade, disse-me que adorava ver-me de calças de ganga, e que eu desculpasse mas não me gostava nada de me ver com aquele vestido!
Enfim ele gostava de mim tal qual eu era.

E foi assim que toda a minha vida mudou! A vida do meu vestido também, porque nunca mais saiu do roupeiro!

Acabei o curso fui dar aulas enquanto ele fez o ultimo ano, ainda estagiei em duas empresas depois casamos, eu comecei a trabalhar com ele e fomos felizes, ainda somos, mas o problema do meu filho acabou com a minha alegria, eu nunca mais fui a mesma. Vivi uns anos um conto de fadas, mas agora sei que os contos de fadas com final feliz, só existem nas historias que lemos aos nossos filhos...

Enquanto escrevi este texto ri e chorei, esta é a Ema de hoje, amanhã pode ser uma que só tem vontade de chorar, ou uma que vê em cada coisa um motivo para rir....

E porque ele continua a ser um homem muito bonito e cheio de charme, porque tudo o que tenho devo-o a ele, porque continuo a ama-lo como no primeiro dia e sei que ele a mim também, porque admiro profundamente ele nunca ter hesitado em ficar comigo, porque ele casou com uma mulher que pesava 59 kgs, mas que lamentavelmente chegou aos 92, eu acho que ele merece que eu volte a ser fisicamente o que era, já que psicologicamente me parece impossível! 

Já me sugeriram que, com uma meia dúzia de sessões com um psicólogo eu ficava melhor, mas eu acho que ninguém no mundo me vai fazer recuperar a minha alegria.

Desculpem o texto tão extenso…